por Jorge Candeias
Caí na asneira
de abrir a porta sem primeiro espreitar quem lá vinha.
Eram duas
ovelhas, muito empertigadas, muito eretas sobre as patas traseiras. Uma trazia
uns oculinhos redondos empoleirados sobre o focinho; a outra transportava uma
pasta encaixada entre uma das patas dianteiras e o corpo coberto de alvos
caracóis lanudos. Fiquei a olhá-las, embasbacado, sem reação.
— Boa
ta-a-a-a-arde, irmão — começou a dos oculinhos. — Andamos a espalha-a-a-a-a-ar
a mensa-a-a-a-a-agem do Senhor. Se tive-e-e-e-e-er um minutinho…
Recompus-me
num instante. Tenho observado com frequência que existe uma estranha magia em
certas palavras e expressões.
— Lamento
imenso — contrapus, apressado — mas não tenho. Apanharam-me mesmo a meio do
almoço. Um ensopado de carneiro de-li-ci-oso. Com licença.
E fechei a
porta.
Imaginam o alívio?
imagino, sim...
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