terça-feira, 30 de abril de 2013

A Crise das Ratazanas

por Miguel Hernâni Guimarães





O ministro abriu a boca e dela saíram ratazanas. Eram cinco, muito pretas, lustrosas, gordas como penicos. O ministro, esse, ainda estrebuchou um bocado, atrapalhando-se com a gravata, mas acabou por cair redondo no chão.
A comoção foi geral. A oposição exigiu eleições antecipadas. O país não podia estar condenado a um governo cujos ministros se dissolviam em ratazanas, alegou.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Mau Feitio

por José Eduardo Lopes




Norb Bron (os subalternos tinham sempre estes nomes parvos), funcionário de Manutenção, foi chamado ao terraço do prédio.
— Eis o que precisamos de ti — explicou-lhe um dos trinta e quatro supervisores que tinha acima de si — o vento despregou parcialmente os painéis de propaganda e tens de os pregar de novo antes que se soltem por completo. Dirige-te à Secção 21 no sexagésimo oitavo piso e requisita um martelo inteligente para teres êxito na incumbência.

terça-feira, 16 de abril de 2013

À Porta de Tua Casa

por Jorge Candeias




À porta de tua casa há uma corda que sobe até ao infinito. Viveste com ela toda a vida. Sempre curioso, sempre intrigado, mas nunca o suficiente. Até ao dia em que é o suficiente, o dia em que decides subi-la para ver onde vai dar, o dia em que resolves que se não o fizeres já acabarás por envelhecer demasiado para tentares a ascensão. E deitas mãos à obra. E sobes. E sobes. E sobes. E continuas a subir até que, ao fim de muito tempo, se te acaba a corda, inesperadamente.
É esse o preciso momento em que cais. Lá em baixo, está o infinito à tua espera. À porta de tua casa.